quarta-feira, 3 de junho de 2015

QUADRILHA JUNINA X PROJETO SÓCIO-CULTURAL



Primeiramente, vale citar, que são pensamentos sobre o assunto e não uma verdade absoluta, mas vamos ao assuntos:
Quadrilha Junina x Projeto Sócio-cultural  

Há algum tempo atrás, em meados da década de 80 e 90, aqui na comunidade do Andaraí, existiam entorno de 10 Quadrilhas, dentre elas as mais conhecidas eram "Rompeu Aurora" e "Largo da Paz" que depois de um longo recesso voltou como "Dança e Paz" já participando dos concursos oficiais de Federação. 
*falo a partir destas décadas pois foi quando iniciei minha trajetória em quadrilhas juninas.
Na época a comunidade tinha um "Tráfico de Droga" com grande poder aquisitivo, também muito ativo no "Incentivo a Cultura", pois não é novidade pra ninguém que ações culturais locais daquela época eram financiadas por rateio de moradores ou candidatos políticos ou na sua maioria era pelos "Caras". Contudo, as quadrilhas ainda sim sempre tiveram suas dificuldades  Financeiras e também de circulação, a nível de transporte, mas a bem da verdade para aquela época de abandono total do Estado nas comunidades não havia nada que o tráfico não resolveria. As Quadrilhas saiam de uma comunidade para outra e assim criavam laços de amizades e conhecimento entorno da "Geografia" da sua própria Cidade, pois cada lugar visitado gerava um "Conhecimento". Eu mesmo gostava da famosa frase: "Você sabia que aqui tinha?"" Que aqui era?" "Que foi aqui que..." Então, boa parte da minha infância e adolescência passei circulando por aí com a quadrilha "Largo da Paz", pisando em diferentes territórios pela primeira vez e gerando conhecimento.
É bom citar que nesta época a Prefeitura junto as Federações organizava o Arraiá do Rio, cujo era o sonho de todo Quadrilheiro dançar na Praça da Apoteose, local das Grandes finais, na contra-mão do que aconteciam em clubes com os bailes funks de porradaria, o clima entre as quadrilhas, que as vezes compartilhavam o mesmo público, era de uma concorrência com o devido respeito ao trabalho do outro. Depois o Arraiá do Rio foi perdendo a força até terminar de vez e as quadrilhas se abrigaram nos Clubes e Ruas da Zona Norte, Zona Oeste e Baixada Fluminense. 
Com a mudança de perfil do tráfico de droga e da política de segurança no inicio dos anos de 2000, as Quadrilhas Juninas também foram desaparecendo das comunidades. Aqui mesmo no Andaraí ficou só o "Dança e Paz" que também não resistiu por mais de uma década. Enquanto nas regiões citadas acima, as quadrilhas revesavam entre falências e o surgimento de novos grupos dando também novas perspectivas de propostas artísticas. Porém hoje, existem bem menos grupos Juninos ativos.
* cito o Tráfico de Droga não como um ponto positivo para as Quadrilhas, indico que na ausência do Estado nas ações culturais ocasionou a proximidade destes "Caras' para incentivar.


Protagonismo

Um dos ponto positivo é o "Protagonismo", pois a quadrilha proporciona a cada "Dançarino" seu momento e um reconhecimento direto do público e dos jurados, caso for em concurso, O esforço de cada um conta para o resultado positivo do geral, diferente das escolas de samba que tem um aglomerado muito maior de integrantes e facilmente os integrantes são esquecidos ou jamais vistos na visão do público ou do jurado. A sensação de pertencimento  e empoderamento dos Dançarinos vão ganhando força com os ensaios, com distribuição de responsabilidades, com as prévias em torneios de ensaios e apresentações particulares  até chegar as apresentações oficiais.

Mobilização e Geração de Renda
Cito também como outro ponto a "Mobilização" e "Geração de Renda", embora pareça pequeno nosso mundo Junino, o que  a nossa Cidade e seus Governantes ainda sabem pouco, que na maioria das vezes uma Quadrilha pode até mobilizar um bairro inteiro e bairros vizinhos para a organização de um grupo e em muitos casos alguns integrantes migram de bairros distante ou outros municípios para dançar em outro lugar:
- Bom geralmente os ensaios são na rua, em praças publicas, salvo os grupos que conseguem parcerias com Clubes e Escolas de Samba, isso acarreta a formação de uma platéia, candidatos a dançar e instalação de luz e som;
- Os ensaios geram lucros de lanche nas lanchonetes próximas ao local;
- A confecção de Figurinos exige contratação de mão de obra especializada, muitas vezes mães e avós que tem a costura como profissão são beneficiadas; 
- Elaboração e confecção de Adereços, Elementos Cênicos e Cenários, neste caso muitos artistas anônimos tem oportunidade de apresentar seus trabalhos através das quadrilhas a exemplo de pintores, artesãos, iluminadores, além de eletricistas, bordadeiras, aderecistas, Serralheiros, Marceneiros e Técnicos de efeitos especiais pirotécnicos;
- A Mobilização é geral no sentido de faixa etária, pois a quadrilha tem uma estrutura que pode admitir desde criança a idosos, isso vai do perfil de cada quadrilha, também é admitido qualquer pessoa independente da sua Orientação Sexual, Religião, Origem, além de além de não estabelecer uma condição estética padrão desde raça a massa corpórea;
- A Quadrilha exige pesquisa para elaboração dos temas e enredos, com isso o trabalho em equipe é primordial para a coleta de informações que possam agregar ao desenvolvimento, as vezes a correção de um tema pode ser feito pelo professor da escola ou da Faculdade, também de um carnavalesco ou aluno de escolas de arte... mas muitas vezes a Quadrilha desenvolve um tema que ela mesmo tenha propriedade em representar.

Bom, citei poucas coisas sobre a Quadrilha poder ser considerada um projeto Sócio-Cultural e me arrisco em dizer que ela pode ser até uma Empresa quando ela consegue concentrar todos estes serviços e produtos dentro da sua própria organização.

Responsabilidade Social

Faltava dizer que temos em nossa responsabilidade, o tempo todo, o dever de manter uma tradição brasileira que por longas datas valoriza por nossos próprios bolsos  a juventude da periferia, são artistas populares que na sua maioria não frequentam escolas de dança, que propõe o tempo todo um processo evolutivo desta arte, fazendo um dialogo entre o passado do folclore brasileiro e o que há de mais moderno nas danças suburbanas, não podemos esquecer que o subúrbio Carioca, Zona Oeste e a Baixada Fluminense são regiões detentoras das principais Quadrilhas do nosso Estado e que por responsabilidade destas localidades a arte de dançar Quadrilha ainda sobrevive e encanta milhares de pessoas.

Vida Longa as Quadrilhas do Rio de Janeiro e a Esperança de um olhar mais atento do Estado de Direito!
Viva São João!!!

 Por: Fábio Batista.

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